A família de Maria Moura morava no Limoeiro, mas se diziam
herdeiros da Serra dos Padres e também de parte das terras das Marias Pretas
(onde atualmente morava a família dos primos, Irineu, Tonho e Marialva).
O pai de Maria Moura morreu, por isso, ela e a mãe ficaram
sozinhas na casa do Limoeiro. A mãe dela
logo arrumou um novo marido, Liberato. Um dia a mãe de Maria Moura apareceu
enforcada no próprio quarto, diziam ser suicídio. Maria Moura não conseguia
acreditar que a mãe, sempre tão alegre, teria coragem de se enforcar.
Liberato, o padrasto, continuou morando ali para cuidar da
enteada. Maria Moura, muito fragilizada pela falta da mãe, permitiu que ele cuidasse dela. Com o tempo, esses cuidados passaram a se transformar em carícias cada
vez mais constantes. Meses depois ele pediu para Moura assinar uma procuração
para ele tomar conta de todas as terras que a família possuía. Ela, então,
lembrou da mãe e que, com certeza, teria negado esse pedido. Nesse momento ela
percebeu toda a verdade da história, Liberato teria se envolvido com a mãe por
interesse nas terras, como a mãe se negou a assinar a procuração, ele a matou
simulando um suicídio. Moura tomou coragem e também se negou a assinar os papéis.
Liberato, então, passou a estuprá-la todos os dias. Ela sabia que se não
assinasse os papéis logo ele também iria matá-la.
Essa mistura de sentimentos fez nascer uma Maria Moura
guerreira e corajosa. Ela induziu um amigo a matar Liberato. Depois, o garoto
também foi morto por João Rufo (empregado da família desde a época do pai vivo). Tudo foi arquitetado por ela, crime perfeito, sem
testemunhas.
Os primos que moraram nas terras das Marias Pretas ficaram
sabendo que Maria Moura agora era sozinha e, por isso, acreditaram ser o melhor
momento para reivindicar a terra do Limoeiro. Ela se negou a entregar a terra e
para proteger a propriedade convocou capangas para ajudá-la. Dias depois os
primos voltaram com ajudantes armados que entraram em confronto com Maria Moura
e os capangas. Para sair com vida, ela colocou fogo na propriedade e fugiu,
assim os primos, se quisessem, ficariam apenas com a terra queimada. Ela e os
capangas vagaram por semanas até encontrar um lugar apropriado para ficar.
Os primos das Marias Pretas viviam em constante conflito.
Irineu, o irmão mais velho, era casado com Firma, uma mulher muito brava,
megera. Tonho era o mais bobão, fazia tudo que o irmão mais velho mandava. E
Marialva era a caçula, uma moça muito delicada, que se apaixonou por Valentim.
O problema era que Firma, Irineu e Tonho só pensavam nas terras, e o aparecimento
de um cunhado significava dividir a herança com mais uma pessoa. Por isso,
Marialva foi trancada em casa por eles, e não permitiram o casamento. Duarte
era o irmão bastardo deles, filho do pai com a escrava Rubina. Duarte gostava
muito de Marialva e decidiu ajudá-la a casar com Valentim. O casal partiu e
foram viver com os pais de Valentim, família pobre que ganhava a vida fazendo
apresentações de circo. Duarte e Rubina foram expulsos da casa por ajudar
Marialva.
Outra personagem importante da história é o padre, também
conhecido como Beato Romano. Ele se apaixonou por Bela, uma mulher casada que
frequentava a comunidade. Tiveram um caso, ela engravidou e quando o marido
descobriu a gravidez, assassinou a esposa e também o bebê. Beato Romano teve um
ataque de fúria e matou o marido dela, depois fugiu. Ele passou anos e anos se
escondendo, sobrevivendo de esmolas pela rua ou trabalhos aleatórios.
Maria Moura e os capangas partiram novamente em direção a
Serra dos Padres, a intenção era estabelecer moradia definitiva por lá. No
caminho, foram roubando alimentos, riquezas e armas, além de conseguir mais
capangas dispostos a seguir a vida com ela.
Já que Duarte e Rubina tinham sido expulsos das terras das
Marias Pretas, foram pedir abrigo na Serra dos Padres para Maria Moura, que
ficou muito feliz com a chegada deles. Duarte virou o feitor de confiança da
fazenda e Rubina passou a cuidar da casa. Os dois eram de extrema confiança e
ajudaram Maria Moura na construção da casa, que ficou grande e confortável, a
fazenda foi nomeada de Casa Forte. Dentro da casa tinha uma esconderijo chamado
por ela de “cubico”, acredita-se que ela queria dizer “cubículo”. Era um lugar
no meio da casa sem portas e janelas, a entrada era pelo quarto dela por um vão
bem apertado.
Beato Romano já estava cansado de fugir. Ele ficou sabendo
da fama de Maria Moura e acreditou que lá seria o lugar perfeito para se sentir
protegido. Pediu abrigo e ela ficou satisfeita por ter um padre na fazenda.
Os anos foram passando e a fazenda de Moura ficava cada vez
maior. Duarte teve a ideia de produzir pólvora para vender, isso enriqueceu
ainda mais a fazenda. Homens chegavam constantemente querendo servir a Dona
Moura. A fama dela se espalhava rápido. Duarte e Maria Moura tiveram um caso,
mas tudo escondido para os homens da fazenda não perceberem.
Um dia chegou na Casa Forte um fazendeiro rico pedindo
abrigo para o filho Cirino, que estava sendo ameaçado de morte por ter
desonrado um moça de família. Maria Moura só aceitou ficar com o rapaz quando o
fazendeiro pagou pelo serviço.
A mãe de Valentim ficou doente e morreu. O pai dele caiu na
bebedeira e o casal seguiu sozinho com as apresentações. Eles tiveram um bebê,
Alexandre, apelidado de Xandó. Passaram por muitas necessidades e ela acabou
enviando uma carta para Duarte, irmão bastardo, para pedir ajuda. Duarte foi ao
resgate deles e levou toda família para morar na Casa Forte, tudo com o
consentimento de Moura. Ela os recebeu muito bem, e mandou construir uma casa
separada só para eles, assim teriam mais privacidade.
Durante a viagem de Duarte, o hóspede Cirino aproveitou para
cortejar Moura, depois de muita insistência ela cedeu. Os dois passaram a se
relacionar com frequência, mas ela ainda gostava de Duarte e não queria
machucá-lo. Duarte percebeu esse novo relacionamento de Moura e se afastou.
O pai de Cirino voltou a fazenda com outro hóspede, Major
Nunes, apelidado de Peba Preto, que também precisava fugir. Moura recebeu
pagamento e ficou responsável por mais esse hóspede.
Semanas passaram, e Cirino começou a ter um comportamento estranho, ele saia da fazenda com certa frequência e ficava dias fora.
Certa noite ouviram um tiro, depois de averiguar,
descobriram que Cirino tinha raptado major Nunes com a intenção de entregá-lo
ao inimigo, com certeza, para ganhar recompensa em dinheiro pelo serviço. Para
realizar a operação, Cirino teve que matar dois homens leais a Moura, que
estavam responsáveis por proteger o major Nunes. Ela ficou muito furiosa, se
sentiu traída por Cirino. No momento de receber a recompensa, Cirino acabou
sendo preso pela família do Major Nunes.
Moura sentia muita raiva e desejo de vingança por ter sido
enganada, mas, ao mesmo tempo, sofria por ainda amá-lo. Ela foi até essa prisão e resgatou Cirino, mas
o colocou preso no “cubico”. Moura pediu para Valentim, que sabia atirar facas
muito bem (habilidade adquirida no circo), para matar Cirino. No entanto, era de
extrema importância para ela que Cirino não desconfiasse que seria morto, para
isso, deu ordem para Valentim acertá-lo nas costas, uma única facada certeira
no coração, assim ele morreria acreditando no amor de Moura. No entanto, no
momento da facada, Cirino estava em uma posição ruim e Valentim não conseguia
fazer a mira. Para acertar no coração precisou chamar por Cirino, que se
virou. A facada foi realmente certeira, mas Cirino viu quem tinha atirado. Isso
fez Maria Moura sofrer muito, ela passou semanas dentro do quarto chorando,
todos achavam que ela estava doente.
Ela se recuperou tempos depois quando um viajante chegou na
fazenda e contou sobre homens armados que vinham pela estrada com muito
dinheiro para comprar gado. Aquela informação fez renascer a Moura guerreira de
antes, destemida, que era capaz de roubar e enfrentar qualquer um. Ela preparou
tudo, planejou e saiu para mais essa aventura.
Mas antes de partir, assinou um testamento deixando um terço
de toda sua fortuna e propriedade para Duarte e o restante para o sobrinho
Xandó.
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